A alma do Montanhista

A alma do Montanhista

"Os dias que estes homens passam nas montanhas são os dias em que realmente vivem. Quando as cabeças se limpam das teias de aranha e o sangue corre com força pelas veias. Quando os cinco sentidos recobram vitalidade o homem se torna mais sensível e, só então, pode ouvir as vozes da natureza e ver as belezas que só estão ao alcance dos mais ousados."


Reinhold Messner

sábado, 17 de julho de 2010

A travessia SP/RJ (trilha do ouro)

Começamos nossa viagem, no dia 13 de novembro de 2008, pegamos o ônibus das 14:30 com destino a São José do Barreiro, tínhamos programado sair no dia 12 às 5:00 horas, mas devido a alguns atrasos mudamos nossos planos; trocamos de ônibus em São José dos Campos, novamente em Guaratinguetá e finalmente as 21:30 chegamos a São José do Barreiro. Com espírito de aventura em alta e tendo como base alguns relatos de outros aventureiros resolvemos ir até a entrada do parque caminhando, pegamos nossa headlamp e seguimos rumo ao parque, sabíamos que teríamos 28 km estrada até o parque, o que não esperávamos é que fossem 28 km de subida, logo na primeira hora começou uma chuva forte e tratamos de procurar um lugar para acampar, de um lado só barroca e do outro barranco, a preocupação começou a bater, e foi nessa hora que a sorte demonstrou estar do nosso lado, sorte esta que esteve presente em vários momentos da nossa viagem, pois logo vimos à entrada de uma fazenda e a lado dela, um pouco acima, uma pequena área plana e limpa o bastante para acampar com segurança. Acordamos 5:00 tínhamos a intenção de sair dali antes de sermos notados pelo dono da propriedade, o que não foi possível, pois quando já estávamos enrolando a barraca o dono apareceu, cumprimentamos, pedimos desculpas por acampar em sua propriedade  e seguimos viagem , depois de muita subida chegamos a entrada do parque por volta das 13:00 aonde fomos muito bem recebidos, conversamos um pouco, pegamos mais algumas informações sobre a trilha, achamos um lugar para almoçar e seguimos até a cachoeira de Santo Izidro que fica a uns 2 km da entrada do parque, muito bonita e com um belo poço para banho, pena que estava frio, mesmo assim não resistimos e caímos na água, uns 4 km mais a frente outra cachoeira a das Posses, desta vez não entramos pois estava ficando tarde e a água estava bem mais fria do que na anterior, recomeçamos a caminhada as 15:00, seguindo em direção a fazenda barreirinha aonde passaríamos a noite, no caminho passou uma rural da fazenda que estava fazendo um passeio com algumas pessoas, logo mais pegamos um atalho e saímos de volta na estrada bem a frente deles, um pouco mais a frente um pequeno riacho cortava a estrada, este grande o bastante para não conseguirmos pulá-lo nos obrigaria a tirar os tênis, mas a rural que vinha logo atrás nos deu uma “carona”, mais a frente notamos que    cometemos um grande erro, não abastecemos os cantis, e conforme as anotações que tínhamos, um croqui bem desorganizado que conseguimos em São José do Barreiro, só teria um bom lugar para pegar água saindo um pouco da trilha, seguindo em direção a Fazenda do Veado, após alguma discussão pois já se passavam das 17:00 e logo escureceria ficou decido que eu, por estar fisicamente melhor preparado iria buscar água, me despi da mochila e com os cantis não mão sai em busca da água, no caminho choveu e uns 3 km de corrida depois encontrei o lugar para abastecer, tentei voltar correndo também, mas a essa altura já estava começando a ficar cansado, com os cantis cheios, seguimos viagem e mais a frente vimos uma placa indicando que faltavam 2 km, na verdade é mais,  a recomendação era ir sempre a direita nas bifurcações, como já estava frio e escuro o cansaço parecia ser bem maior, sabíamos que já estávamos próximos da fazenda e na ultima bifurcação ficamos na duvida pra que lado seguir, felizmente lembramos da rural localizamos seu rastro e o seguimos. Chegando à fazenda, que tem pousada (R$ 50,00), jantar (R$ 15,00), café da manhã (R$ 5,00) e o camping (R$ 5,00), o pessoal do passeio que estava conversando nos chamou para nos juntarmos a conversa, algumas risadas depois, decidimos pegar somente o café da manhã e o camping. No dia 15 após um café bem reforçado, por volta das 8:00 continuamos a trilha, o destino de hoje seria a cachoeira dos veados que fica a uns 14 km da barreirinha, foi uma caminhada tranqüila, apreciando muito a natureza e tirando varias fotos. Logo apareceu o calçamento original que da o nome a trilha, composto por grandes blocos de pedras colocados por escravos que utilizavam este percurso para levar o ouro no lombo de mulas até a praia, um pouco antes de chegar à cachoeira do outro lado do rio Mambucaba tem a pousada da Dona Estelina, aonde eu tive que voltar depois de curtir a cachoeira, como meu irmão torceu o tornozelo, acampamos em uma área que tem próximo a cachoeira, fato que eu me arrependi depois; tomamos banho no rio, água estava muito boa, devido a um problema no fogareiro tivemos que cozinhar em uma fogueira improvisada, voltando a pousada fiquei sabendo que tinha banho quente por R$ 5,00 e que ia chegar um grupo de mais de 20 pessoas vindo de Bananal, com o acampamento já montado resolvemos ficar ali mesmo e ir até a pousada somente para o café da manhã que também custa R$ 5,00. Algo que eu jamais imaginei, dormir ouvindo o som de uma queda d’água daquela magnitude foi realmente revigorante, só por isso já teria sido valido todo o esforço, e durante a madrugada a visão daquela cachoeira iluminada pela lua é algo que jamais vou esquecer, levantei apenas para ir ao banheiro, mas quando me deparei com aquela cena, me desliguei de tudo e fiquei um bom tempo apreciando, essas belas imagens são o que nos leva a saírmos do conforto da cidade encarar uma trilha assim. No ultimo dia de trilha voltamos até a pousada para tomar o café da manhã sem desmontar o acampamento, o pessoal do outro grupo já estava lá, fomos recebidos como muito bom humor e comemos todos juntos, nos convidaram para juntarmos ao grupo o qual recusamos porque sabíamos que cansados como estávamos seria difícil acompanhar seu ritmo, na despedida nos ofereceram uma carona do fim da trilha à vila de perequê; saciados voltamos para o acampamento, desmontamos e seguimos para terminarmos a trilha, segundo o croqui deveria ter uma segunda pinguela e na procura desta andamos um bom trecho em outra trilha, a preocupação começou a bater, pois nada de calçamento e cada vez mais nos afastávamos do rio, felizmente nos encontramos com uma pessoa do local que nos informou que aquela trilha era outra que seguia para cunha, que a pinguela que procurávamos não existia mais e a nossa melhor opção era voltar, ele nos acompanhou na volta; em um trecho mais raso do rio atravessou nossa mochilas com sua mula e nos instruiu sobre um atalho para voltarmos à trilha, de volta ao caminho certo teríamos ainda 18 km de descida bem difícil, mas com muitas belezas naturais para serem apreciadas, em termos de fauna e flora esse é o trecho mais bonito da trilha, besouros, cobras e lagartos eram freqüentemente avistados ao longo do caminho, e ao fim de uma subida, a trilha nos brinda com um trecho de onde é possível ver uma grande cachoeira ao longe, este também é o maior trecho de calçamento "pé de moleque" feito pelos escravos, a trilha estreita, cercada hora pela mata, hora por bananais, cobriu de limo a maioria das pedras o que dificulta a descida e a torna um pouco perigosa então uma boa dica nesta parte é arranjar algo para usar de bastão, pouco antes fim da trilha encontra se um riacho que é também a divisa dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e mais a frente um descampado cercado por arame farpado dos lados formando um corredor, passando isso logo avistamos a ponte pênsil que é onde termina a trilha, onde também já se encontravam alguns integrantes do grupo que conhecemos nesta mesma manhã, aceitamos a carona oferecida na ocasião e seguimos de van para Perequê, passamos a noite em uma pousada lá mesmo, e no dia 17 cedo seguimos de ônibus para Parati, depois para São Sebastião e por fim chegamos em casa.

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